Como as vacinas são testadas?
É início de setembro de 2020 e você é um pesquisador de vacinas que trabalha para tentar proteger as pessoas do COVID-19. A vacina que você está testando acaba de entrar em testes clínicos, o que significa que você finalmente está testando em humanos adultos. Um dos sujeitos testados relata um problema médico e os testes da vacina param. Você já passou meses e meses testando e re-testando esta vacina. Você testou a capacidade dela de proteger células e ratos; você testou overdoses em ratos para ver se tinha algum efeito negativo; você a testou em uma espécie de macaco; e você testou diferentes misturas de ingredientes para ver qual receita é a mais eficaz. Mas se este único problema médico não for obra do acaso ou uma ocorrência estranha, esta vacina nunca será enviada para uso.
As vacinas têm de passar por rigorosas etapas de desenvolvimento e de testes antes de poderem ser usadas em humanos, e depois, por muitas outras rodadas de testes em humanos antes que possam ser amplamente utilizadas. Vamos dar uma olhada mais de perto em tudo o que é necessário para testar a segurança de uma vacina.
Como a segurança das vacinas é testada?
A maioria das vacinas requer algum tipo de célula dentro da qual possam se replicar. Estas "células hospedeiras" podem ser de uma ampla variedade de organismos, sejam de bactérias, fungos, animais ou plantas. O processo de teste depende do tipo de vacina escolhida e da forma como foi produzida. Às vezes, microscópios poderosos e programas de computador são usados para visualizar a vacina; outras vezes, a vacina pode ser testada sem o uso de microscópios.
Se notarem algum problema, os cientistas tentam encontrar a causa e fazer mudanças para melhorar a vacina. Isso pode significar que um novo método ou diferentes células hospedeiras tem que ser escolhidos para fazer a vacina. Esse processo continua até que os cientistas fiquem satisfeitos com os resultados experimentais da vacina que elaboraram. Então, eles têm uma “vacina candidata”.
Vacinas de teste: estágio pré-clínico
Assim que uma vacina candidata é descoberta, ela precisa ser testada em células ou animais. A vacina precisa ativar as células imunológicas e fornecer proteção contra o patógeno. Os testes usados dependem do tipo de vacina que está sendo testado. Alguns pesquisadores podem usar células para entender como a vacina funcionará quando administrada a humanos. Muitas vezes, estudos em animais são realizados para testar a segurança da vacina e verificar se ela é capaz de manter os animais protegidos do patógeno. Esses dados são cruciais para planejar a dose certa para o próximo estágio da pesquisa.
Às vezes, adjuvantes, materiais que ajudam o sistema imunológico a responder melhor à vacina, podem ser adicionados para fazer a vacina funcionar melhor. Se a vacina não funcionar bem, os cientistas terão que voltar aos estágios anteriores para melhorar a vacina. No entanto, se funcionar bem em diferentes tipos de animais e passar por testes rigorosos, um pedido pode ser apresentado à Food and Drug Administration (FDA) dos EUA (ou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, no Brasil) para aprovar os testes da vacina em estudos com humanos. Chegar a esse estágio pode levar muito tempo, geralmente vários anos; entretanto, existe um processo especial para vacinas que são necessárias com urgência.
Testando vacinas: Fase I de ensaios clínicos em humanos (começando pequeno)
Ao se testar algo novo, geralmente é melhor começar aos poucos para se certificar de que tudo está funcionando como deveria. Por este motivo, os primeiros ensaios em humanos (chamados ensaios clínicos de fase I) têm um pequeno grupo de voluntários adultos (20 a 80 pessoas). O objetivo dessa fase é garantir que a vacina seja segura e verificar se ela funciona bem.
Para garantir que a vacina funcione, os participantes costumam ser divididos em dois grupos. Um grupo recebe a vacina e o outro grupo recebe um placebo (neste caso, uma substância que não terá nenhum efeito, como uma solução salina). Ambos os grupos são monitorados cuidadosamente para garantir que a vacina não tenha efeitos colaterais e que traga benefícios, ou seja, proteção.
Diferentes doses podem ser usadas para ajustar a quantidade de vacina que precisa ser administrada para obter o benefício máximo. Se a vacina não funcionar ou tiver algum efeito colateral, ela volta ao estágio experimental (ou pré-clínico). As vacinas bem-sucedidas, por outro lado, passam para os ensaios clínicos de fase II.
Testando vacinas: Fase II de testes clínicos em humanos (testes de tamanho médio)
Em um ensaio de fase II, mais adultos são incluídos para garantir que a vacina funcione e seja segura. Esses testes podem incluir centenas de pessoas e, geralmente, pessoas que têm chance de se infectar com o patógeno. Neste ensaio, um grupo controle de pessoas que receberam um placebo em vez da vacina real ainda é incluído para garantir que a vacina realmente funciona. Diferentes dosagens ou número de injeções podem ser testados para ver qual deles tem o melhor efeito. Mais uma vez, se a vacina não tiver um bom desempenho no ensaio, ela volta aos estágios anteriores do teste. No entanto, se funcionar conforme o esperado, ela pode passar para o próximo estágio.
Testando vacinas: Fase III de testes clínicos em humanos (testes muito grandes)
O terceiro estágio é o maior teste da vacina candidata e inclui milhares ou mesmo centenas de milhares de pessoas. A razão pela qual tantas pessoas são necessárias neste estudo é para detectar efeitos colaterais que podem afetar apenas um pequeno número de pessoas (talvez apenas 1: 10.000 ou 1: 20.000). Como é muito importante garantir que a vacina seja segura para ser administrada às pessoas e que funcione bem, esta fase tenta incluir grupos muito grandes de pessoas e continua testando se a vacina protege as pessoas do patógeno, e se há algum efeito colateral. Durante esta fase, crianças e mulheres grávidas geralmente não são incluídas. Se a vacina funcionar bem e for segura, as pessoas que a desenvolveram podem solicitar ao FDA (nos EUA, ou ANVISA no Brasil) uma licença para começar a fabricar a vacina para entrega..
O que vem depois da aprovação da vacina?
Depois de obter a aprovação da vacina, os desenvolvedores começam a fabricá-la em maior número nas fábricas. Em seguida, eles a disponibilizam para médicos e outros profissionais de saúde. Nos EUA, o FDA é responsável por monitorar como a vacina está sendo feita e verificar se tudo é feito corretamente. Durante a fase de produção, a vacina é embalada em pequenos frascos que então são lacrados para garantir que tudo esteja estéril.
Mesmo depois que a vacina é lançada, a maioria das empresas continua estudando a vacina para se certificar de que ela está funcionando bem e é segura. É também nessa época que a vacina pode começar a ser testada em crianças e mulheres grávidas. Esses tipos de estudos que acontecem após a aprovação da vacina são chamados de ensaios de fase IV. Os médicos continuam a vigiar quaisquer efeitos colaterais que possam ser causados pela vacina e, no Brasil, podem relatá-los por meio do Sistema Nacional de Vigilância dos Eventos Adversos Pós-Vacinação. Nos EUA, os pais e outros profissionais de saúde também podem usar este sistema para relatar quaisquer problemas. Lá, o Center for Disease Control (CDC, ou Centro de Controle de Doenças) e o FDA monitoram cuidadosamente esses relatórios para descobrir se o evento foi causado pela vacina e, em seguida, tomar as medidas necessárias.
Vacinas são muito seguras
A produção de vacinas é um processo longo e tem muitas etapas. No entanto, o objetivo final é garantir que a vacina forneça proteção contra o patógeno ao mesmo tempo que é segura. Em cada estágio, os cientistas trabalham com grupos de especialistas para criar uma vacina segura e eficaz que proteja as pessoas contra certas doenças. Depois que uma vacina é considerada segura, ela passa para um processo de produção maior para fabricar o suficiente para distribuí-la a milhões ou até bilhões de pessoas, para começar a salvar vidas.
*Existem vários bancos de dados que rastreiam quaisquer possíveis problemas com vacinas durante a fase IV em diante. Além do Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas, há também o link de dados de segurança de vacinas e o monitoramento de segurança de imunização rápida pós-licenciamento. Mais informações podem ser encontradas em https://www.cdc.gov/vaccines/parents/infographics/journey-of-child-vacci...
https://www.cdc.gov/vaccines/basics/test-approve.html
https://www.historyofvaccines.org/content/articles/vaccine-development-t...
https://www.fda.gov/files/vaccines,%20blood%20&%20biologics/published/En...
Singh, K, and S Mehta. “The clinical development process for a novel preventive vaccine: An overview.” Journal of postgraduate medicine vol. 62,1 (2016): 4-11. doi:10.4103/0022-3859.173187
Detalhes bibliográficos:
- Artigo: Testando Vacinas
- Autor: Dr. Biology
- Editor: Arizona State University School of Life Sciences Ask A Biologist
- Nome do site: ASU - Ask A Biologist
- Data de publicação: 1 Apr, 2021
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As vacinas passam por intensivos testes antes de serem administradas em grande escala às pessoas. Este processo garante sua segurança. As vacinas salvaram milhões de vidas. Ilustração The Vaccine de Mario Zucca.
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